30.7.10

Quando o pão faz mesmo mal!

292 mil portugueses podem ser intolerantes
ao glúten

2010-07-29

Por Renata Silva


Aos 50 anos descobriu ter a doença celíaca. Tal como a maioria dos portugueses “nunca tinha ouvido falar”. Ernestina Gomes, hoje com 55, teve de explicar vezes sem conta aos amigos que sofria de intolerância ao glúten. Teve de deixar de comer alimentos que contivessem aveia, centeio, cevada e trigo.

Tudo começou com enxaquecas, diarreias, vómitos e anemias e com várias idas ao médico. “Dizia que eu tinha uma inflamação não específica, uma doença auto-imune, mas não sabia qual era”, contou ao Ciência Hoje.

Na mesma situação, podem estar 292 mil portugueses a quem este problema não foi ainda diagnosticado, de acordo com dados cedidos pela Associação Portuguesa de Celíacos (APC). Embora possa surgir em pessoas de todas as idades, a situação é detectada mais habitualmente pelo segundo ou terceiro trimestres da vida.

A ausência de sintomas não significa ausência de doença. "Pode estar geneticamente no corpo da pessoa e manifestar-se depois, por qualquer situação, stress ou um trauma”, explica Raquel Madureira, presidente da APC. Na realidade, segundo esta associação, há “uma predisposição hereditária claramente transmitida”.

Ciência Hoje falou com Diana Veloso e Silva, nutricionista do Serviço de Pediatria do Hospital de S. João, no Porto, que alerta: “A única forma de tratar a doença celíaca é retirar o glúten da alimentação”. O intestino é o lesado. Quanto mais tempo demora o diagnóstico, mais este órgão é afectado pela ingestão de alimentos com esta proteína. No limite pode mesmo levar a outro tipo de intolerâncias.

Nos restaurantes toda a atenção é pouca!

Quem estiver proibido de comer massas e pão vê a sua tarefa de jantar e almoçar fora mais complicada. O celíaco tem de evitar, por exemplo, alimentos que tenham sido preparados com farinha ou molhos que contenham glúten. Quem tem poucos recursos, enfrenta maiores dificuldades em adquirir alimentos apropriados à dieta por serem de custo elevado.

Filipe Gomes, estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, descobriu ter sido um dos afectados aos 18 anos em altura de exames nacionais. Para o jovem, líder do “Sem Espiga”, grupo de informação sobre a doença celíaca, foi a nível social que sentiu mais dificuldades. "Acabar de conhecer uma pessoa e já se estar a falar sobre o que temos é complicado. Sentimo-nos rotulados por apenas
um detalhe da nossa vida", relata ao Ciência Hoje".

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=44304&op=all#cont